Este artigo foi publicado originalmente no blog De Kyoto, link para o original aqui
Nos dias de hoje são cada vez mais comuns as pessoas que falam mais de um idioma. Bilíngues têm mais chances no mercado de trabalho, facilidade ao viajar, acesso a culturas distintas e até uma série de benefícios cerebrais (alguns aqui e aqui).
Em geral aqueles que falam fluentemente um segundo idioma (alguns até mais de dois) aprenderam porque moraram em outro país ou sua família(ou parte dela) vem de outro país. Mas e aqueles que não tiveram a oportunidade de conviver diretamente com uma cultura distinta e querem aprender um novo idioma?
O mais comum é que essas pessoas passem a frequentar uma escola de idiomas. Mas na maioria das vezes isso simplesmente não funciona. São muito comuns os casos de pessoas que frequentam cursos de Inglês ou Japonês por anos a fio e mesmo assim não conseguem manter uma conversa com um falante nativo, não conseguem assistir um filme sem legenda ou sequer fazer uma reserva em um restaurante por telefone.
Muitos culpam as escolas de idiomas, o que é uma grande injustiça, afinal é humanamente impossível aprender um idioma com quatro horas de aula por semana. É preciso muito mais que isso.
Basta pensar em como aprendemos nosso idioma, ou como bilíngues aprendem sua segunda língua. É um processo de contato contínuo, todos os dias, a maior parte do tempo.
Desde pequeno sua família fala com você em Português, seus vizinhos, amigos, funcionários de lojas, restaurantes, supermercados,etc. todos falam Português com você.
Programas em Português passam na televisão e no rádio, as revistas e livros na estante estão em Português, seu computador e celular também provavelmente estão em Português.
Tudo isso faz com que você se acostume mais e mais com o idioma, e que se sinta confortável com o idioma.
Obviamente em outro país tudo isso seria em outro idioma.
Porém viver em outro país não é algo tão simples, muito menos barato. O truque então é forjar um ambiente artificial de imersão, e é ai que entra a internet.
A internet tem mudado a forma com que muitas coisas são feitas, desde simples cartas que foram substituidas por e-mails, até processos burocráticos e bancos de dados imensos que já não existem mais em papel. Além disso muito da economia atual e comunicação depende quase inteiramente da internet. A educação também tem mudado muito com a internet – instituições de ensino oferecem cursos online, palestras são gravadas e disponibilizadas na rede, livros são digitalizados, etc.
Criar um ambiente artificial de imersão é simples, basta mudar tudo que for possível que você faz em Português para Japonês ou Inglês (ou o idioma que quiser). TV e rádio em Japonês, livros em japonês, mangá em japonês, filmes e séries em Japonês (com legenda em Japonês ou sem legenda), podcasts em Japonês, e assim por diante.
O importante é fazer o idioma parte da sua vida diária, quanto maior o tempo de exposição melhor.
Existe um ponto essencial para aprender um idioma desta forma, é necessário que o conteúdo esteja em um nível acessível ao aprendiz, um pouco além do conteúdo já dominado. Assim o aprendiz aumenta seu vocabulário naturalmente apenas consumindo mídia estrangeira (para uma explicação mais complexa recomendo ler a teoria de Stephen Krashen sobre aquisição de língua aqui).
A teoria de Krashen também explica outro ponto importante – input (ouvir e ler) é essencial para o desenvolvimento linguístico; output (falar e escrever) não é essencial, mas sim um produto da aquisição. Ou seja, quanto mais você ouve e lê, melhor vai ser sua capacidade de flar e escrever.
Este ponto é contestado levemente por alguns poliglotas, mas ainda assim todos consideram input muito mais importante que output. Steve Kaufmann, poliglota do Lingq (site que eu recomendo muito) comenta em um de seus vídeos que 90% da aprendizagem de idiomas é input, e 10% output/prática. Alguns famosos professores de idiomas do Brasil também são entusiastas como Luiz Passari e Mairo Vergalha.
Não adianta assistir anime em Japonês o dia todo sem entender nada que você não vai aprender nada. Você precisa consumir conteúdos que estejam de acordo com seu nível, pouco a pouco, até chegar em um nível em que consiga entender qualquer tipo de material.
Até chegar em um nível avançado é necessário estudar algo mais simples, como material didático feito para estrangeiros e livros infantis. Você pode começar mudando seu celular para Japonês e aprendendo as palavras de cada menu.
Mas e os cursos presenciais?
Cursos presenciais podem ser muito bons para adquirir uma base no idioma, conhecer outras pessoas que também admiram culturas diferentes e/ou têm interesse em aprender, tirar dúvidas com um professor, ajudar a manter uma rotina de estudos, e obviamente para praticar o idioma.
Mas não adianta jogar toda a responsabilidade do seu aprendizado em um curso, é necessário assumir a responsabilidade e se esforçar para aprender.
Para saber mais:
AJATT – All Japanese All the Time (Inglês)
TheLinguist.com (Inglês) (artigo selecionado)
Livros e artigos de Stephen Krashen (Inglês)