O método AJATT – como aprender japonês em 18 meses

Se você está estudando ou pensa em estudar japonês e buscou informações na internet, muito provavelmente encontrou algum texto, comentário ou coisa do tipo se referindo ao AJATT. Muita gente fala disso, poucos realmente sabem o que é e como funciona.

AJATT é uma sigla para “All Japanese All The Time”, algo como “tudo em japonês o tempo todo”. Trata-se de um método para aprender japonês rapidamente, sem frequentar aulas ou cursos, e sem precisar morar no Japão.

O método foi descrito no site oficial do AJATT a partir de 2006. Segundo o próprio autor, ele começou a estudar japonês intensamente em Julho de 2004, aos 21 anos de idade; e em Outubro de 2005, já sabia japonês suficiente para passar por uma entrevista de emprego e ser contratado para trabalhar em uma empresa japonesa em Tóquio.

O método consiste em 4 fases (0,1,2,3 e 4). Cada fase é extensivamente e detalhadamente descrita no website. O autor (Khatzumoto) também criou uma série de produtos com explicações mais precisas e detalhadas sobre o método, além de um programa que oferece apoio ao aprendiz.

Em um resumo breve, o método consiste em:

  • Aprender a escrever todos os ideogramas de uso comum (joyo kanji)
  • Aprender os silabários japoneses (Hiragana e Katakana)
  • Consumir o maior volume possível de material nativo (anime, manga, livros, podcasts, programas de tv)
  • Mudar tudo que for possível para japonês (celular, computador, video-games)
  • Aprender japonês através de frases
  • Criar um baralho de SRS com 10.000 frases e estudá-las

Infelizmente todo o conteúdo está disponível apenas em inglês, com alguns resumos ou referências em alguns websites em português. Neste artigo eu preparei um resumo das fases e implementação.

Fase 0 – Convicção

Antes de começar a estudar japonês intensamente é muito importante que você acredite que é possível aprendê-la e que isso não é uma tarefa impossível.

Aprender um idioma é uma jornada longa e intensa, é absolutamente necessário que você esteja preparado(a) psicologicamente. Você precisa estar com foco na tarefa o tempo todo para não se desmotivar.

O autor cita em alguns artigos o efeito pigmaleão. Recomendo a leitura!

 

Fase 1 –  Materiais para a jornada

Antes de começar o aprendizado, é necessário preparar alguns materiais para a jornada.

  • Ambiente de imersão

Como citado anteriormente, o ideal aqui é mudar tudo que for possível para japonês. Você pode começar com seu telefone celular e outros aparelhos eletrônicos na sua casa.

É importante ter conteúdo japonês, feito de nativos para nativos, disponível e em fácil alcance. Ou seja, nessa fase você vai preparar podcasts, livros, anime, artigos, etc. Tudo em japonês.

A ideia principal aqui é preparar um ambiente japonês à sua volta.

  • SRS –  Programa de repetição espaçada

Basicamente, Spaced Repetition System  é uma técnica de aprendizagem que incorpora intervalos subsequentes e crescentes de tempo referentes a materiais previamente aprendidos.

A técnica é embasada na teoria de “Spacing Effect”, que afirma que humanos e animais aprendem melhor quando são expostos a determinado conteúdo algumas vezes espaçadas dentro de um longo período de tempo em vez de serem expostos ao mesmo conteúdo de forma concentrada num curto período de tempo.

Imagine que você aprende algo novo hoje, revisa amanhã, revisa novamente em três dias, em sete, em duas semanas, em um mês, e assim por diante. Assim você simplesmente não tem chance de esquecer o que aprendeu.

Como aprender um idioma envolve memorizar palavras, conceitos e padrões, utilizar um programa de SRS é um ponto crucial no método.

Dentre os muitos softwares disponíveis, recomendamos  particularmente o Anki, que pode ser baixado gratuitamente neste link. O Anki possui interface amigável, facilmente configurável e tem opções por vários idiomas. Clique aqui para assistir um vídeo explicando como utilizar o Anki para revisar frases em Japonês.

 

Fase 2 – Aprendendo ideogramas (kanji) com o método Heisig

Esta fase é um dos pilares do método AJATT. Consiste em aprender a escrever e reconhecer um significado de todos os ideogramas (kanji) de uso comum no Japão (joyo kanji) utilizando o livro “Remembering the Kanji“, traduzido no Brasil como “Kanji, imaginar para aprender“.

O método consiste em utilizar métodos mnemônicos para memorizar os ideogramas. Se você seguir o método do livro até o final, você vai ser capaz de reconhecer e escrever cada kanji com base em uma palavra-chave em português ou inglês.

A meta desta fase é ter conhecimento prévio sobre os ideogramas antes de começar a estudar japonês. Kanji é uma das maiores barreiras que separa estudantes iniciantes de estudantes avançados de japonês. Aprendendo kanji antes de começar a estudar japonês intensamente vai lhe livrar dessa barreira e lhe dar uma vantagem semelhante a pessoas que já conhecem kanji, como chineses.

Atualmente, obter o livro é possível no Brasil em sites como Amazon. Porém, se você quiser ter uma ideia de como o livro é estruturado, é possível baixar uma amostra clicando aqui.  Além disso, estudantes entusiastas prepararam alguns baralhos compartilhados no anki com todos os kanji na ordem ensinada no livro. E há também um site com informações de todos os kanji conforme o método RTK.

 

Fase 3 – Aprendendo os silabários (hiragana e katakana)

A meta desta fase é simples – aprender os dois silabários utilizando o livro “Remembering the Kana”, que possui uma didática semelhante ao “Remembering the Kanji”.

Fase 4 – Frases (sentenças)

Talvez a fase mais conhecida e difundida pela internet. Algumas vezes também chamada de “método das sentenças”.

A meta é se tornar capaz de ler 10.000 frases em japonês. Elas precisam ser frases gramaticalmente corretas, feitas de nativos para nativos. O número 10.000 é totalmente arbitrário, baseado nos conceitos apresentados no livro Outliers de Malcolm Gladwell.

Existem algumas regras para as frases:

  • Não decorar as frases – você precisa apenas ser capaz de ler e entender
  • Não traduzir – você precisa ser capaz de entender as frases sem a necessidade de tradução
  • Não focar muito na gramática – o ideal é que as regras intrínsecas do idioma, ou gramática, seja parte de você inconscientemente.

Para esta fase você vai utilizar o SRS intensamente, ele vai ser seu parceiro de muitas horas de revisão e estudo. No começo você vai criar cartas bilíngues, com uma frase em japonês e uma tradução, interpretação ou explicação em português. Assim que possível, é importante mudar para um formato 100% em japonês, no qual tanto a frase quanto a explicação estarão em japonês.

Você vai extrair as frases dos materiais da fase 1, livros, manga, scripts de filmes, anime, artigos de jornal, wikipedia, sites, fóruns, etc etc.

A ideia é simples, você vai passar a maior parte do seu tempo de estudo lendo ou ouvindo material nativo, consultando o dicionário e google quando não compreender o conteúdo. Quando encontrar frases que pareçam importantes, você copia elas para o SRS. A outra parte do seu tempo de estudo você vai passar revisando essas frases.

 

Funciona?

SIM! Existem vários exemplos, principalmente de americanos, de pessoas que aprenderam japonês até um nível muito alto utilizando o método. O próprio criador do método, Khatzumoto, publicou um vídeo onde ele conversa em japonês com um amigo. Confira:

 

De onde surgiram essas ideias, e como posso saber mais sobre esse método?

Khatzumoto colocou nas referências de seu blog de onde tirou as ideias para compor o método. O método AJATT é uma combinação de uma série de técnicas e métodos de aprendizagem em geral, aquisição de idiomas e motivação.

Infelizmente o blog original já não é mais atualizado com consistência desde 2014.  Mas seu conteúdo continua disponível neste link. Atualmente outros bloggers/youtubers continuaram a divulgar e aperfeiçoar o método. Eu pessoalmente recomendo o MIA (Mass Immersion Approach).

Outra referência muito boa é o site antimoon.com onde são discutidos métodos para aprender inglês. Apesar de ser um idioma completamente diferente, a metodologia e a filosofia do aprendizado são iguais.

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